Safia multimídia
Embora seja eminentemente poeta do barro, Safia é também excelente pintora, faz versos, cria e conta oralmente histórias interessantes, inventa roteiro de filmes, recita e performatiza algumas de suas poesias, compõe canções, toca pianola, pinta e borda.
Abaixo, alguns poemas de Safia, dando destaque ao poema “Nasci nos Pireneus” e a canção "Festa na Fazenda", orquestrada por Isabella Rovo e entoada pelas crianças do Ponto de Cultura de Pirenópolis.
Autora: Safia
Arranjadora: Isabella Rovo
Festa na fazenda
Fui chamado pruma festa
Fui certo pra não faltá
É uma festa muito boa
Até o dia clarear
Nessa festa todo mundo ia
Festa boa, festa da Safia
Galo preto já cantou
Tá faltando o carijó
Esta festa é muito boa
Até netinho dança com a vó
Nessa festa todo mundo ia
Festa boa, festa da Safia
O galinho já cantou
Já ta clareando o dia
Essa festa é muito boa
Até o pai dança com a fia
Nessa festa todo mundo ia
Festa boa, festa da Safia
Já é hora do lanche
Que os galo já cantou
Esta festa é muito boa
Tem farofa e tem licô
Nessa festa todo mundo ia
Festa boa, festa da Safia
O dia já raiou
Já é quase de madrugada
Essa festa é muito boa
Patrão dança com a empregada
Nessa festa todo mundo ia
Festa boa, festa da Safia
O galinho ta cantando
Já bateu as suas asas
Dou um viva pro festeiro
E também pra dona da casa
Nessa festa todo mundo ia
Festa boa, festa da Safia
Galinho já cantou
Tá faltando o garnizé
Uma festa é muito boa
Marido dança com a muié
Nessa festa todo mundo ia
Festa boa, festa da Safia
O galinho já cantou
O dia ta amanhecendo
Esta festa é muito boa
Dança os grande e os pequeno
Nessa festa todo mundo ia
Festa boa, festa da Safia
O dia já amanheceu
Pó pagá o lampião
A patroa é muito boa
Já dançou com seu peão
Nessa festa todo mundo ia
Festa boa, festa da Safia
Agora nóis vai s’imbora
Que já tá acabando a festa
Senhor dono da casa
Faz outra no rastro dessa!
Nessa festa todo mundo ia
Festa boa, festa da Safia
Mãe dinossauro
Sou de Pirenópolis
Interior de Goiás
Pobre pra cachorro
Pra receber homenagem
Meu nome é Celestina
Apelido de Safia
Não esperava ter serventia
Fica na minha cabeça
Nunca me esqueça
Obrigada pela vitória
Não que eu mereça
Agora depois de velha
Vocês se interessaram
Feia pra diabo
Feito a mãe dinossauro
Trem de ferro
Tô no trem de ferro que está rodando
De Minas Gerais pro estado goiâno
Tem muita embalagem não posso parar
De longe eu avisto já vem apitando
Que sou responsável que vai atravessando
Ô meu São Cristóvão, meu Santo Antônio
Me livra dos perigos e dos contrabandos
Levanto cedo com fé e coragem
Cuidar na vida e ver o que é que faz
Faço personagem com o pé na embreagem
Pra ser feliz com toda rodagem
Fui em Belo Horizonte, fui em Minas GeraisHoje estou nas ancas do meu chão Goiás
Briga de casal
Vi uma briga de raposas no meio do capim meloso
E um rancho perigoso na beira do padre Souza
Homem briga com a mulher, mulher briga com o esposo
Um gosta de café doce, outro gosta de café amargoso
Um é diabético e o outro é tuberculoso
Muito miserável e preguiçoso
Não faz uma horta, não planta uma couve
Não cria galinha, não come um ovo
Trinta anos de casado no civil e no religioso
Não tem um filho, é desgostoso
Moça rica
Numa Quinta-feira Santa
Há muitos anos atrás
Uma moça muito rica
Contraria o gosto dos pais
Toda festa que ela fica
Ela dançou com o Satanás
O sinhô disse à mocinha
Hoje o baile está mudado
Tamo no fim da quaresma
Sabe lá se isso é pecado
A mocinha respondeu
É o sinhô que está cismado
Jesus Cristo está no céu
E nós aqui dança largado
Quando o baile começou
Regulava as nove hora
Chegou um moço bem vestido
Arrastando um par de espora
Dando viva para o povo
E como vai minha senhora
Quero conhecer o festeiro porque estou chegando agora
Tocava mais a mazuca
E o cabra tava virando
Com o chapéu na cabeça
E a moça foi incomodando
O sinhô dança direito
Que mamãe num tá gostando
O senhor disse à mocinha
Agora eu vou m’imbora
Que minha hora já chegou
Eu preciso ir embora
Que o galo já cantou
Tirou o chapéu da cabeça
E os dois chifres ele mostrou
Parecia um touro velho
Daquele mais pegador
E o caboclo soltou um globo
E sumiu na explosão
E o povo da correlia
Ficou tudo na confusão
Ficou louca a moça rica
Filha do Major Simão
Poesia da bezerra
Matei uma bezerra
Com dois meses desmamada
Deu dois pares de buraco
Do couro mal espichado
A costela da bezerra deu duas pontes forradas
Deu as quatro vias com varão atravessado
O sebo e a manteiga fiz um punhado de vela
pra iluminar com uma delas
O fígado da bezerra eu fiz um sarapatel
Chamei duzentos homens cada um com duas mulheres
Da meia noite pro dia começaram a reliar
Derrubaram minha bacia e deixaram o prato derramar
Eu não faço mais churrasco por causa dessa brigaiada
Quebraram minha cabaça e roubaram minha rabada
Fui pro mato melar
Passei a mão no meu machado que as abelhas da cabaça ficou tudo atrapalhada
Achei um lugar de fazer uma roça que é um lugar de muita fartura
Que eu quero plantar de tudo pra viver na fartura
Quero plantar cana pra fazer a rapadura
Um litro de arroz, um litro de feijão e uma medida de mamona entre meus algodões
Lá na minha roça é um farturão danado
Tem muita abobrinha verde, batatinha do outro lado
Plantei tomilho, plantei taioba
Minha avó ficou sem dente de tanto roer abóbora
Com todo o meu trabalho, com o meu procedimento
Trabalhei o ano inteiro e não achei um casamento
Fiz um mês de viagem, viajando noite e dia
Toda casa que eu chegava, era a noiva e suas fia
Com muito custo arrumei uma nega muito feia pra danar
Parecendo ouriço caixeiro com briga de tamanduá
Ela come na panela lá em cima do fogão
E com os olhos arregalados, parecendo assombração
Ela tem a perna torta e a bunda arrebitada
O papo cheio de caroço, chega tá despencado
Seleção Brasileira
Ê dão dão
Esse mundo é muito bão
Primeiro a chuva, depois trovão
Eu gosto de futebol
E adoro a Seleção
Eu vi meu nome escrito
No jornal Bueno Galvão
Sou caboclo animado
Sadio do coração
O que fortalece o jogador
É rapadura e requeijão
Maleita
É terreno do sertão
nem dado não aceita,
a gente compra um sítio
fica alegre e satisfeita.
Espera boa colheita
pode dar bom mantimento.
Mas bem pouco aproveita.
Quando a febre vem
o caboclo deita
chama o curador
e dá a receita,
purgante de tal
purgante de azeita
toma surufato
não pode beber leite,
quando for daí um pouco
chama o curador
e dá a receita,
purgante de tal
purgante de azeita
toma surufato
não pode beber leite,
quando for daí um pouco
o caboclo purga preto
eu falo porque sei
porque passei
por este aperto
Quem sofreu maleita
não tem mais conserto
ainda que cura de um
o peito.
Poemas enCANTADOS